Sobre a Arquitectura Transitória
Transitório -situação que muda, ou desaparece com o tempo com tal velocidade que é difícil de apreender;Do latim trans_, através+ ire, ir_.
Para compreender como validar a existência (ou probabilidade desta) de uma arquitectura transitória, basta ver o modo e a forma como as sociedades estão impregnadas de culturas digitais. As tecnologias e a Internet se duplicam a cada ano, cresce a descentralização, a sociedade de consumo só valoriza a fonte, o acto de compra, a produção industrial perde importância, crescendo a importância da produção de serviços e informação.
O Ecrã é o elemento mais importante deste tempo, é um interface, o receptor de informação e por agora os nossos olhos (como uma prótese), que vincula o real com o virtual. O que se deve traduzir na arquitectura.
Os processos de desenho acercam-se cada vez mais, ou incorporam-se, aos meios de representação digital onde se pode diferenciar 3 niveis:
1 -como representação do espaço arquitectónico por meios clássicos de projecção para a sua analise e descrição - Hiper-Realismo.
A mais difundida, porque permite o concretizar de imagens realistas para a descrição de projectos, permitindo a possibilidade de mudança do projecto. Apresenta-se com perspectivas hiper-realistas, a aplicação de texturas permitindo uma concepção quase real do que será a obra.
2 - como parte componente do processo de desenho dos espaços e objectivo com um único resultado final - arquitecturas híbridas ou simbióticas.
Este método representa o "ponto alto" dos tempos modernos, ampliando a possibilidade de experimentação, para vincular as diferentes possibilidades de forma a conseguir uma fusão ou simbiose destes mundos paralelos ou concêntricos.
Paul Valery observa, no seu ensaio "Some Simple Reflections on the Body", que para compreender a nossa "corporiedade", temos que reconhecer alguma inexistência, sugerindo que não há noções primordiais, ou pré-existentes que formam o nosso ser, como os sentidos e os fenómenos são significativos culturais, que criam uma universalidade entre os seres humanos.
Em obras como a fundação Cartier em Paris de Jean Nouvel está reinterpretada como o ecrã, ou a pele do edifício, havendo uma oscilação entre interior-exterior/virtual-real, brincando com as transparências, opacidades e projecções que põe em duvida a sua situação material.
Para além disso, o efeito converte-se num transmissor, dando-lhe uma característica de metamorfose continua, desafiando o conceito histórico "arquitectura - lugar - espaço", então o espaço e a forma passam para um segundo plano e o importante translada-se para o que está a acontecer nas suas paredes, o factor presença.
O Museu Guggenheim de Bilbao de Franck Ghery responsde com tipos simbióticos a interpretações liquidas e transitórias associada à cultura de meios, principalmente do digital. A materialidade do uso do aço inox permite que as formas desafiem a gravidade.
Fundação Cartier - Jean Nouvel
3 - o meio como ambiente exclusivo onde se concretiza o espaço projectado
"A minha experiência da realidade virtual depende do movimento do meu corpo físico. Para ver tenho que mexer a cabeça. Para actuar e fazer coisas no mundo virtual tenho que dobrar-me, estender-me, caminhar, dar voltas... ...se o virtual é tão físico quanto o corpo, o que é o que deixo ao entrar nele? Definitivamente, não é o corpo físico. Sem ele não existo em nenhum mundo. O corpo físico é o que nos dá acesso a todos os mundos"
Karen Frank - AD Profile nº 118-1995
O "lugar" onde está a arquitectura alcança o grau de desenvolvimento e experimentação que era a sua maior exponencialidade. Não é nem dentro nem fora dos edifícios mas sim numa série de "territórios virtuais", ou seja, migra para um estado imaterial chamado ciberespaço. Este acto implica uma redefinição de conceitos interligados com o ser humano, no que diz respeito ao próprio ser, repercutindo-se directamente na arquitectura, que precisa de uma re-semantização urgente dos seus conceitos, de forma a interpretar os símbolos e signos desmaterializados e não permanentes da época em que vivemos.
Nestes mundos desmaterializados, líquidos, transparentes, infinitos, as tecnologias da realidade virtual codificada em VRML (Virtual Reality Modelling Language), permitem a criação de lugares e arquitecturas novas onde a cartografia sensível substitui a perpectiva e a matéria, de forma a dar resposta às sociedades contemporâneas. Arquitectos como Marcos Novak ou Michael Benedikt marcam a diferença na linguagem arquitectónica a trans-arquitectura, com lugares de acesso remoto, geometria não euclidiana, e dão uma nova forma à inter-relação entre edifícios.
<< Home