Hoje é dia de....
Para os primeiros hominídeos que habitaram o nosso planeta, certamente todos os fenómenos naturais que se passavam à sua volta estariam ligados ao misticismo e às múltiplas divindades que cada um ia construindo na sua mente. A aparente regularidade dos movimentos no céu era algumas vezes quebrada de forma brutal e só era explicável com o divino: umas vezes o Sol escurecia-se durante longos e infindáveis minutos, de outras era a Lua que “desaparecia” para logo em seguida adquirir uma cor “ensanguentada”. Não será difícil para nós imaginar o terror que este tipo de fenómenos, com origem na “ira divina”, infligiriam sobre os seus observadores. A memória colectiva dos povos nómadas que habitavam o planeta era muito reduzida e difícil de transmitir entre gerações, consequência dos seus movimentos constantes em busca de meios de subsistência. Por outro lado as subsequentes civilizações sedentárias que se seguiram, adoptando um estilo de vida centrado num determinado local, tornaram possível a transmissão dos registos daqueles raros fenómenos, geração após geração, observando-se assim que estes aconteciam repetidamente, embora de forma irregular. Dos registos efectuados pelos Chineses, cerca do ano 2.000 a.C. (a data exacta do primeiro registo de observação de um eclipse não é consensual entre os historiadores), passando pelo mítico poder que o céu exerceu sobre as civilizações Gregas e Egípcias, muitas foram as civilizações que procuraram estabelecer padrões que permitissem explicar a ocorrência dos eclipses lunares e solares. A exactidão dos cálculos astronómicos efectuados pela civilização Maia (séc. IV a IX d.C.) permitia-lhes prever a ocorrência de eclipses com precisão de até um minuto. Muito antes da época em que viveram os Maias, os Caldeus (612 a.C. – 539 a.C.), que habitaram na Mesopotâmia, conheciam um período em que os eclipses lunares (também aplicável aos eclipses solares) pareciam repetir-se: o ciclo de Saros. O ciclo de Saros é um período com aproximadamente 6.585,3 dias (18 anos, 11 dias e 8 horas). Cada dois eclipses separados por um ciclo completo de Saros partilham geometrias muito similares. Ocorrem no mesmo nodo, com a Lua praticamente à mesma distância da Terra e na mesma altura do ano. Uma vez que podem ocorrer entre dois a cinco eclipses por ano, há aproximadamente 40 séries de Saros em progresso simultâneo. Por exemplo, durante o final da segunda metade do séc. XX ocorreram quarenta e uma séries individuais sendo que, vinte e seis destas séries produziram eclipses centrais. À medida que terminam velhas séries, outras novas se iniciam e tomam o seu lugar. É espantoso pensar no grau de conhecimento científico que esta civilização já havia atingido há 2.500 anos. Fosse para explicar actos divinos ou para prever a sua ocorrência com exactidão, os eclipses possuíram desde sempre um papel importante no conhecimento das civilizações. Mas não ficamos por aqui. “O mundo moderno começou em 29 de Maio de 1919, quando fotografias de um eclipse solar, tiradas na ilha do Príncipe, na África Ocidental, e em Sobral, no Brasil, confirmaram a verdade da nova teoria do universo."
Paul Johnson, historiador inglês
Em 1905, o então jovem funcionário do departamento de registo de patentes de Berna, Albert Einstein (1879-1955), anunciou ao mundo a sua Teoria da Relatividade, estabelecendo como um dos princípios básicos dessa teoria o princípio da equivalência entre o movimento uniformemente acelerado e a acção da gravidade. De acordo com este princípio, a gravidade provoca uma deformação do espaço em torno dos objectos. Transpondo esta ideia para o espaço, quando a luz passa próximo de corpos celestes com massa elevada, tal como o Sol, a deformação do espaço provoca um encurvamento dos raios luminosos. Em 1911 Einstein reparou que este encurvamento da luz deveria poder ser observado durante um eclipse solar total, pois nesse momento podemos observar e fotografar a luz das estrelas que se posicionam junto ao seu bordo. Se algum tempo depois voltarmos a fotografar essas mesmas estrelas durante a noite, poderemos comparar se existe deslocação aparente da sua posição e assim inferir a deformação do espaço perto da nossa estrela. Para confirmar a “curvatura da luz” e, consequentemente, a Teoria da Relatividade, foram organizadas algumas expedições científicas. Seguindo as previsões de eclipses solares totais, grupos de cientistas deslocaram-se para localizações específicas, mas a maioria das tentativas foram frustradas. Uma expedição alemã, em 1914, foi impedida de se deslocar por questões políticas e o mau tempo atrapalhou uma outra equipa argentina no ano de 1916. Foi previsto um novo eclipse solar total para o dia 29 de Maio de 1919. Os locais que se afiguraram com melhores condições geográficas foram os escolhidos para receberem as expedições organizadas para o efeito. Foram enviadas duas equipas de astrónomos britânicos: uma para Sobral, no Brasil e outra, liderada por Arthur Eddington, para a ilha do Príncipe. Apesar das condições meteorológicas adversas que ambas as missões defrontaram no dia do eclipse, foi possível obter um número aceitável de placas fotográficas a partir dos dois locais de observação. Naquelas placas eram visíveis estrelas no bordo do disco solar eclipsado. As equipas realizaram posteriormente novas placas do céu nocturno quando as mesmas estrelas já eram visíveis de noite. Eddington mediu cuidadosamente a posição das estrelas nas placas fotográficas e detectou um deslocamento na luz das estrelas. Mais tarde viria a recordar aqueles momentos como os mais importantes da sua vida. Em 6 de Novembro de 1919 os resultados foram apresentados publicamente, comprovando a Teoria da Relatividade de Albert Einstein. A Teoria da Relatividade estava comprovada. Confirmava-se a existência de uma nova teoria do Universo. O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo.
Tirado daqui
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