Thursday, April 21, 2005

Ainda sobre a Casa da Música

Ao passar os olhos pelo JN de dia 19...
Pretende-se que se pense não só no edifício em si, que já se sabe, tem as suas mais valias bem definidas, e servirá muito bem a comunidade e quem dela quiser desfrutar, mas pensar na sua envolvente e descobrir o que se passa...

"A decisão tomada pela primeira Administração do porto 2001 de localizar a Casa da Música na Rotunda não foi casual nem inocente. Talvez não tenha sido inteiramente consensual, mas foi absolutamente consciente. A ideia fundamental era a de lançar um desafio à cidade - ou até, uma "provocação" - com um profundo sentido de futuro, questionando uma zona carente de expressão urbana adequada à generosidade e à grandiosidade do magnifico traçado constituído pela Rotunda/Avenida da Boavista. Expressão urbana adequada, significa, neste caso, dimensão, densidade e, portanto, massa edificada capaz de criar vitalidade urbana, assente, por sua vez, em programas e funcionalidades, qualitativa e quantitativamente significativos.
Foi esta visão de cidade e a importancia do papel que se queria para um equipamento com a dimensão da Casa da Música que conduziram a dita "provocação", o que não demorou a encontrar resposta no estimulante projecto de Rem Koolhaas. Por isso, não é de estranhar que a Casa da Música seja envolvida por cidade construída e que Koolhaas considere isso não só natural como desejável. A questão não é, por isso, a de ter ou não ter construção por perto, atrás ou à frente. A zona da Rotunda e, portanto, toda a envolvente, deve ter a construção e deve tê-la mas adequadamente medida, justamente dimensionada e rigorosamente planeada.
Por isso, a questão do "edificio do janelão" é uma falsa questão e só representa a clamorosa falta de ideias e a gritante omissão de qum deve zelar pela cidade e não tem, ainda, nem "plano" nem "projecto", para que qualquer proposta possa ser avaliada. E a melhor porva é que mesmo a actual porpota de PDM continua a ignorar tanto a Rotunda como a Casa da Música, ao não lhes atribuir, sequer a dignidade duma Unidade Operativa de Projecto e Gestão entre as 23 que dele constam. Mas a "Casa" vingou-se: aí está, bela, gloriosa e, para já, adoptada e amada (quase) à primeira vista (por quase todos) e a fazer com que a ciade e os seus governantes se lembrem dela e do sitio em que se ergue e compreendam que a sua importância não se resume à música e ao janelão, mas extravasa a "paróquia" a que a quiserem remeter, para se dirigir, sem complexos, aos país e ao mundo... ... O PDM não atribui à instituição qualquer papel na dinâmica de revitalização da cidade e, por isso, não pensa em potenciá-la, já que até o próprio Conservatório foi dali descartado. Que futuro então, para a Casa e para a Rotunda? É o que se o passado já lá vai, o futuro exige respostas!"
Manuel Correia Fernandes, arquitecto.

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